*Texto escrito em 9/10/2009, desculpem-me os raros amigos que já leram minhas palavras néscias. Mas tenho tido dificuldades de escrever novamente. Tem faltado emoções expressíveis.
Talvez a vida seja como uma colcha de retalhos, daquelas que minha vó Maria, (mineira, analfabeta, que tinha vergonha de sorrir e mostrar os dentes)... talvez a vida seja como uma dessas colchas, costuradas com tamanho esmero e cuidado.
Um pequeno quadrado de tafetá rosa do vestido de baile da moça, que naquela noite pôs uma flor no cabelo, um velho colar no pescoço, pequenos brincos de pérolas de plástico, e dançou a noite inteira, como se fosse a ultima, em cada par desejou encontrar um acalanto, um amor suspirado aos cantos. Mas da grande noite, do grande baile, a maior lembrança foram os pés calejados.
Aquele pequeno quadrado de linho de boa qualidade que outrora fora o terno bem costurado do maior galanteador da cidade, quantos abraços femininos não sentiu aquele terno, quantas noites não foi arrancado com violência e paixão, quantas vezes o terno cheirava à cigarros de palha, desses que são enrolados nas coxas das mulatas. Tantas foram as vezes que tamanho desejo arrancou o botão superior, mas quando a vida deixou o corpo, ninguém achou que o terno merecia o caixão.
No pequeno pedaço de chita ficou os sonhos da menina da roça, tímida como bicho arisco, escondia-se de olhares furtivos. Olhava para baixo por medo de olhar nos olhos e quem sabe perder-se naquele oceano azul...
O tecido rendado branco, um dia teve a glória fracassada de pertencer ao vestido da noiva abandonada no altar em manhã de sol no mês de maio. Os sinos badalaram anunciando o casamento, a igreja encheu-se das mais nobres e pérfidas pessoas. Os minutos viraram anos e noivo não chegava. O penteado, a linda tiara, o véu como manto da virgindade, começaram a desmoronar diante do desespero transformado em loucura da moça que a vida desejou entregar a um homem.
O quadradinho de pano azul vivo, as memórias de uma antiga camisa de futebol, que vestia o peito do menino arteiro. A pelada no campinho de várzea, as aventuras montadas sobre a bicicleta, roubar as jabuticabas do velho ranzinza no fim da rua. A criança que deixava as freiras da escola quase loucas de ira e depois ria-se gostoso das travessuras. Fugia, corria com toda a força que os pulmões lhe davam quando via de longe o chinelo e a ameaça da surra punitiva.
O cetim preto vestiu a viúva que de tantas lágrimas derramou em vida durante o enterro estava seca. A mulher perguntava-se porque sentia-se tão aliviada, por fim cessaria as noites sofridas, em que trancava-se no banheiro para fugir da furia ébria do desconhecido com quem dividia o leito por mais de vinte anos. Acabavam-se ali as noites dormidas no tapete de crochê que ficava em frente ao vaso sanitário. Acabava-se ali as desculpas para os olhos cor roxos e inchados. Findava o martírio de uma vida divida à dois.
É somos retalhos de costura bem feita aqui, e meio desalinhados acolá.
Um pequeno quadrado de tafetá rosa do vestido de baile da moça, que naquela noite pôs uma flor no cabelo, um velho colar no pescoço, pequenos brincos de pérolas de plástico, e dançou a noite inteira, como se fosse a ultima, em cada par desejou encontrar um acalanto, um amor suspirado aos cantos. Mas da grande noite, do grande baile, a maior lembrança foram os pés calejados.
Aquele pequeno quadrado de linho de boa qualidade que outrora fora o terno bem costurado do maior galanteador da cidade, quantos abraços femininos não sentiu aquele terno, quantas noites não foi arrancado com violência e paixão, quantas vezes o terno cheirava à cigarros de palha, desses que são enrolados nas coxas das mulatas. Tantas foram as vezes que tamanho desejo arrancou o botão superior, mas quando a vida deixou o corpo, ninguém achou que o terno merecia o caixão.
No pequeno pedaço de chita ficou os sonhos da menina da roça, tímida como bicho arisco, escondia-se de olhares furtivos. Olhava para baixo por medo de olhar nos olhos e quem sabe perder-se naquele oceano azul...
O tecido rendado branco, um dia teve a glória fracassada de pertencer ao vestido da noiva abandonada no altar em manhã de sol no mês de maio. Os sinos badalaram anunciando o casamento, a igreja encheu-se das mais nobres e pérfidas pessoas. Os minutos viraram anos e noivo não chegava. O penteado, a linda tiara, o véu como manto da virgindade, começaram a desmoronar diante do desespero transformado em loucura da moça que a vida desejou entregar a um homem.
O quadradinho de pano azul vivo, as memórias de uma antiga camisa de futebol, que vestia o peito do menino arteiro. A pelada no campinho de várzea, as aventuras montadas sobre a bicicleta, roubar as jabuticabas do velho ranzinza no fim da rua. A criança que deixava as freiras da escola quase loucas de ira e depois ria-se gostoso das travessuras. Fugia, corria com toda a força que os pulmões lhe davam quando via de longe o chinelo e a ameaça da surra punitiva.
O cetim preto vestiu a viúva que de tantas lágrimas derramou em vida durante o enterro estava seca. A mulher perguntava-se porque sentia-se tão aliviada, por fim cessaria as noites sofridas, em que trancava-se no banheiro para fugir da furia ébria do desconhecido com quem dividia o leito por mais de vinte anos. Acabavam-se ali as noites dormidas no tapete de crochê que ficava em frente ao vaso sanitário. Acabava-se ali as desculpas para os olhos cor roxos e inchados. Findava o martírio de uma vida divida à dois.
É somos retalhos de costura bem feita aqui, e meio desalinhados acolá.
Gostei mocinha! Não conhecia seus dotes literários! beijos
ResponderExcluir