quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Correspondências

A intimidade que escrever cartas para alguém querido, exerce sobre meu ato de escrever uma ação libertadora de amarras. Me liberta. Escrevo apenas o que sinto sem a preocupação excessiva com a forma que as palavras tomam. Segue abaixo alguns trechos de correspondências minhas à amigos, amantes, errantes.

 "Bem, eu te falei que passei uma noite de insônia, e nesta noite meu travesseiro me aconselhou como o velho amigo que é. Meus pensamentos iam e vinham, passavam por amigos com os quais eu dei mancada, por amigos que deram mancadas comigo, por romances fadados ao fracasso, por romances possíveis e é claro o que eu faria se ganhasse na mega-sena. O e-mail que lhe escrevo é apenas um dos e-mails que resultou a minha noite em claro, alguns já enviei, outros não sei se consiguirei. Bem porque escrever por e-mail se falo com vc sempre, não sei, acho que talvez um monólogo seja mais fácil, que venha a avalanche de perguntas depois."

"Mas tudo isso são conjunções de possiblidades, um jogo de "se": "se fosse...", "se existisse", "se você", "se eu", "se outro". Pois nem toda a racionalidade de uma virginiana com ascendente em virgem é capaz de juntar os fatos presentes para construir um futuro impalpável, quando se trata de futuro e sentimentos, somos todos equilibristas com guarda-chuva cor-de-rosa, dançando em cima de uma corda dourada suspensa no ar, que não consegue esconde o abismo caótico que se encontra abaixo de nossos pés."

"As palavras que aqui tens, esvairam-se como pústula que necessita ser grangrenada. As palavras percorriam minha mente e explodiam em meus dedos, queriam ganhar o mundo, virar tinta, queriam sair do plano das idéias e ser mais mortais, mais reais. Pulsavam. As palavras tem vida própria, extirpável de nossa vontade. Não sei, se algum momento vc desejou essa explicação enfadonha que não no fundo não explica nada. Não sei , se havia a necessidade disto. Não sei de muita coisa. Mas as coisas que sei, sei com a certeza absoluta de que sei."

"Estava conversando ontem com uma amiga que vive em uma fissura ôntica, como diria Caio Fernando de Abreu, e ficamos imaginando como nossos ídolos fariam em tal situação, chegamos a conclusão que Cazuza com certeza faria com uma garrafa de conhaque, fumando vários cigarros, falando verdades obcenas na cara das pessoas, jogaria tudo para o alto e viraria as costas pra não ver nada cair. No semblante dele estariam estampados os olhos marejados de lágrimas, como os olhos de Capitu, mas nos lábios carregariam um sorriso cínico feito criança que fez travessura. Pois bem, que assim seja!"

E claro confidências lisérgicas!
"Se ninguém sabe a receita do chá de belladonna para nos entorpecer no nosso Sitiostock, e acredito que chá de nós moscada eh somente placebo... Vamos tomar chá de fita cassete, se ninguém tiver uma fita cassete, ferventamos as pilhas do controle remoto, se ainda assim não ficarmos loucos, vamos cheirar meia. Se o efeito das meias passar, lambemos sapo. Em últimos caso sempre há o café coado na calcinha para enebriar de paixão.
Tomar suco de comigo-ninguém-pode e concluir que com nós também não podem.
Aflorar nossa surrealidade anacrônica, deixar transparecer a ânsia de não ser. Sagrado invade a nossa realidade profana, imacular os pecadores insanos, que não tem consciência do erro (ou tem), o fazem por simples desejo de escapar de um rolo compressor nefasto e invisivel."

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