quinta-feira, 26 de abril de 2012

Rumble Fish


A vida é uma garota bonita chapada, alta como uma pipa, dançando balé no céu, ao vento, ao léu. to sempre fudida, pisando no meu vômito, não que eu queira que seja assim, mas é. tem dias que eu queria apenas que tudo fosse diferente, queria habitar outra podre pele que não fosse a minha, achar uma porcaria de uma porta de que desse na cabeça de outra pessoa, que nem aquela que ia pra mente do John Malkovich. mas não dá, e eu preciso aceitar a imagem desfocada que vejo no espelho. A loucura tem um beijo doce, e tá sempre chamando a gente pra trepar com ela sem camisinha, e a gente fica louco de tesão só com a ideia. Até a mais primitiva das sociedades tem respeito pelos insanos, quero isso, não quero que ninguém fique adentrando o espaço da minha maluquez, quero-os afastados, mas também não dá, aí a gente bebe, fuma, transa com o primeiro otário que aparece, sempre aparece um otário. Eu sempre to fazendo merda, sempre esquecendo a porcaria da conta pra pagar, to sempre me enrolando, mas você sempre consegue desenrolar minhas pernas. suas mãos perspicazes sempre dão um jeito de encontrar minhas coxas. sua voz sussurrada e relógio fazendo aquele tic tac  infernal. A morte é como uma dessas mulheres que sabem que são sedutoras, com seu cigarro manchado de batom vermelho, ela sabe que você tá na dela, e continua ali se insinuando libidinosamente pra você. E a gente fica excitado de novo, molhada e de pau duro ao mesmo tempo. tem dias que é difícil não passar perto do fogão e não sentir uma vontade de enfiar a cabeça no forno com o gás ligado. É foda, cara.  A idéia fica romântica, você se imagina entre os lençóis ensanguentados com os pulsos cortados e acha isso uma cena bonita. sem estourar os miolos é claro, queremos deixar um corpo bonito pra nossa mãe poder chorar. mãe, aliás, nessa hora que você lembra dela, percebe que já bebeu demais, é melhor ir deitar. e no dia seguinte o que resta dos seus delírios são apenas uma puta dor de cabeça e um porre do caralho. 

Um comentário:

  1. As descrições são tão intensas/fortes!
    Mas lê-la é sempre tão prazeroso, pois me vejo, me identifico com tudo ou quase tudo. Amei seu texto!

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