terça-feira, 27 de novembro de 2012

Tirei meus fantasmas do armário, era preciso. Limpei a poeira antiga deles e os coloquei na estante da sala de estar, eu precisava olhar para eles, o tempo todo. Não são bonitos, mas são meus e sei que devo encará-los. Então eles ficaram ali na estante feito pequenas bonecas feias de vodu.

quinta-feira, 30 de agosto de 2012



















Nas minhas urgências esquecidas
das palavras de boca amanhecida.
Vejo-me louca no desejo latente
Insisto e desisto, fico e corro
perdi a rima do coro dos contentes
perdi a linha no teu caminho
Um sussurro abafado ao teu ouvido: socorro!
A pele tatuada por unhas e dentes.
A roupa rasgada, lançada ao chão,
sem a menor preocupação
com a maior devoção.
Um minuto e não somos mais nós
Somos deuses de nós
Somos nós embaralhados
Somos nós amarrados
Somos solidão compartilhada

terça-feira, 10 de julho de 2012





Te deixei com a sua covardia.
Liguei o rádio,
no banco de trás 
as caixas com meus livros e discos,
minha vida, meu dia a dia.
Te deixei com a sua covardia
de quem nunca conseguiu 
dizer que me queria.
Te deixei com a sua covardia.
Não se preocupe,
tua covardia vai te fazer companhia.

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Entre um blues e outro


Acordei sentido teu cheiro
na minha roupa
na minha pele.
Sentindo teu gosto
na minha boca.
Para pessoas como nós
a loucura é sempre pouca.
Acordei como um cão
lambendo as feridas,
na esperança
que elas vão sarar.
Na esperança
que você vai voltar.

sexta-feira, 6 de julho de 2012

Desespero

Eu sou o Rei Lagarto desesperado tentando ser Jim Morrison. Eu sou o blues desesperado do homem abandonado pela mulher. Eu sou o grito desesperado e rasgado de Janis Joplin que faz amor com multidões e vai dormir sozinha. Eu sou o Coringa com seu riso desesperado. Eu sou o verso desesperado e rápido do Dylan. Eu sou Rose Mary desesperada ao ver seu bebê. Eu sou o estopim desesperado do tiro que matou Lennon, querendo parar no tempo. Eu sou o iventor de aviões desesperado que se mata. Eu sou o eco retumbante de guitarras desesperadas em Pompéia. Eu sou o choro desesperado da criança vietnamita. Eu sou Bukowski desesperado querendo puta e encontrando um copo de whisky. Eu sou Pessoa desesperado no tédio de Bernardo Soares. Eu sou Kerouac desesperado pelas estradas querendo sentir tudo a flor da pele, quente no sangue. Eu sou Casanova no seu sexo desesperado querendo trepar até com freiras. Eu sou o Coyote com seu  amor desesperado à tudo e à todos. Eu sou a guitarra desesperada e incendiária de Jimi Hendrix. Eu sou você desesperado. Eu não sou você!

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Eu sei que vou te amar...

"Nosso amor puro,
 Pulou o muro."
(Chacal)

Assim começa o filme, e assim terminam os amores. É preciso compreender amores acabam, terminam, findam. E já não somos os mesmos bobos apaixonados de outrora. "Ele quer me enlouquecer. Ele me leva para o parque de diversões da loucura dele, pra montanha russa da neurose dele. Ele me leva pra uma teia de aranha e de circo. Me faz rir e me dá facadas. Ele diz que é defensor do mundo harmônico e que eu sou a praga, a destruição, canalha". Somos escravos de nós mesmo, rendidos pela solidão, buscando a ilusão do outro, querendo ser escravizado por outro, por outro, por outro. Somos sujos, e não admitimos. Inventamos verdades. Somos donos da razão (que não existe). Egos gladiadores. Falsos perdões. Amores acabam, terminam, findam. Abrem-se caminho para novos amores, novos terrores.


Eu sei que vou te amar (1986), Texto e direção: Arnaldo Jabor



quinta-feira, 26 de abril de 2012

Rumble Fish


A vida é uma garota bonita chapada, alta como uma pipa, dançando balé no céu, ao vento, ao léu. to sempre fudida, pisando no meu vômito, não que eu queira que seja assim, mas é. tem dias que eu queria apenas que tudo fosse diferente, queria habitar outra podre pele que não fosse a minha, achar uma porcaria de uma porta de que desse na cabeça de outra pessoa, que nem aquela que ia pra mente do John Malkovich. mas não dá, e eu preciso aceitar a imagem desfocada que vejo no espelho. A loucura tem um beijo doce, e tá sempre chamando a gente pra trepar com ela sem camisinha, e a gente fica louco de tesão só com a ideia. Até a mais primitiva das sociedades tem respeito pelos insanos, quero isso, não quero que ninguém fique adentrando o espaço da minha maluquez, quero-os afastados, mas também não dá, aí a gente bebe, fuma, transa com o primeiro otário que aparece, sempre aparece um otário. Eu sempre to fazendo merda, sempre esquecendo a porcaria da conta pra pagar, to sempre me enrolando, mas você sempre consegue desenrolar minhas pernas. suas mãos perspicazes sempre dão um jeito de encontrar minhas coxas. sua voz sussurrada e relógio fazendo aquele tic tac  infernal. A morte é como uma dessas mulheres que sabem que são sedutoras, com seu cigarro manchado de batom vermelho, ela sabe que você tá na dela, e continua ali se insinuando libidinosamente pra você. E a gente fica excitado de novo, molhada e de pau duro ao mesmo tempo. tem dias que é difícil não passar perto do fogão e não sentir uma vontade de enfiar a cabeça no forno com o gás ligado. É foda, cara.  A idéia fica romântica, você se imagina entre os lençóis ensanguentados com os pulsos cortados e acha isso uma cena bonita. sem estourar os miolos é claro, queremos deixar um corpo bonito pra nossa mãe poder chorar. mãe, aliás, nessa hora que você lembra dela, percebe que já bebeu demais, é melhor ir deitar. e no dia seguinte o que resta dos seus delírios são apenas uma puta dor de cabeça e um porre do caralho.