sábado, 23 de abril de 2011

Palavras dedicadas à uma carta


As cartas que escrevo e não envio amontoam-se nas gavetas, nas mesas nuas em qualquer superfície crua. Invadem minha mente. Querem fugir às vezes, chegar ao destino jamais alcançado. Desistem, deixando no ar um suspiro carregado de esperança, mas nem sempre há esperança, por vezes só lamentam. Desistem não porque lhe faltem força, têm força de sobra, ao contrário, se fossem fracas não haveriam de ter sobrevivido tanto tempo carregando a cor amarelada, como um ansião carrega nobremente suas rugas. Cartas guerreiras se quer temem à ameça do fogo de fúria insana que anseia a mão covarde que exaspera sobre o papel estas palavras. Palavras que escapam aos dedos da mão ignóbil, não tem culpa de serem assim. Carregam consigo o pecado inocente da concepção. Pecado de quem fez e não de quem é. Ahhh, mas as cartas são bravas, não abandonam a peleja, a eterna batalha do tempo.

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