− Sou uma garota estranha – observou ela – gosto de eu mesma fazer os meus cigarros. – disse ela mostrando então os objetos que o rapaz percebeu que eram um pequeno pacote de fumo como os que seu avô utilizava e um papel para enrolar o fumo, enquanto enrolava delicadamente um cigarros com seus dedos longos continuou a falar – acho um saco não poder fumar em qualquer lugar, em lugares fechados tudo bem, mas, poxa até nas praças existem cartazes de proibido fumar.
− Verdade, o mundo está careta, cada vez mais careta, e quanto mais eu penso, mais tenho medo e pena desse mundo careta.
O rapaz sentou-se ao lado da moça e ficou observando-a por alguns segundos em silêncio enquanto ela terminava o seu cigarro. Seus pensamentos iam e vinham, mas era difícil conter a avalanche que tomara sua mente, estava ludibriado pela beleza dos olhos daquela garota, não que eles fossem azuis como o céu, ou verdes como as águas de um oceano tropical. Eram olhos castanhos, normais para pessoas distraídas, mas aqueles que fossem mais atentos viriam naqueles olhos um brilho diferente, uma intensidade que chegava a chocar, a escandalizar, capaz de enlouquecer mentes fracas. Como um basilisco faria a suas vítimas, mas o olhar da moça não trazia um perigo intencional, a culpa era de quem não suportasse o peso daquele olhar.
Ela em silêncio tragava o cigarro, apreciando vagarosamente a fumaça. Não havia necessidade de palavras. A garota lembrou-se da personagem de Pulp Fiction que constatava que o silêncio desconfortável fazia com que as pessoas falassem asneiras, mais ainda a personagem concluía que um sinal de estar com alguém especial era poder calar a boca e confortavelmente compartilhar o silêncio. As palavras eram desnecessárias. O simples som de uma vogal seria capaz de quebrar a aura magia que se instalara com tamanha facilidade. Desfrutaram do silêncio o quanto puderam, não mais que alguns instantes.
− Vamos? Nossos ônibus já devem estar chegando. Falou a garota com um sorriso doce, mas carregado de uma melancolia singular.
Levantaram e caminharam até os bancos anteriormente ocupados. Não demorou mais do que cinco minutos quando um ônibus grande nas cores vermelho e cinza estacionou bem a sua frente. O rapaz retirou do bolso uma passagem, olhou para ela e em seguida para o ônibus com certo desalento.
− É o meu ônibus.
Levantou-se pegou suas coisas, que incluíam uma caixa de violão, uma velha mala de couro e uma caixa retangular de papelão. Ela também se levantou ajudou o rapaz a carregar a caixa de papelão, que era o pertence mais leve. Com um sorriso simpático no rosto e aquele olhar enérgico, ela disse:
− Então é isso. Tchau, foi um prazer enorme te conhecer, Ítalo.
− Digo o mesmo.
Ele subiu para o ônibus, sentou-se em sua poltrona e pela janela observou ela acenar um adeus. Ítalo não soube e nem sabe dizer até que força lhe impulsionou. Mas sabe que algo muito além de suas razões mentais, fez com que levantasse novamente de sua poltrona. Saiu pela porta. Caminhou dois passos firmes em direção a ela, estendeu seus braços e deu-lhe um beijo como jamais havia beijado alguém. Quando seus corpos se separam, de olhos fechados a garota sorria.
− Boa viagem! – Ela lhe sussurrou no seu ouvindo, fazendo quem ele sentisse seu hálito quente.
− Obrigado!
Voltou para o ônibus, teve a boa viagem que lhe foi desejada, mas nunca mais a viu. Contudo aquele olhar permanece gravado em sua retina e em sua memória.
Que maneira mais encantadora e leve de escrever, adorei "mas o olhar da moça não trazia um perigo intencional, a culpa era de quem não suportasse o peso daquele olhar." O olhar que é nosso humanizador,o que absorve o que nos faz enxergar o outro, acho belo a linha do tempo que traça no texto...
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